A Satisfação

A Satisfação

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Seu "Teco"

Meu Pai era um homem simples, porém especial.
Nascido em 20/11/1925. Lavrou a terra, estudou muito pouco, e em suas histórias, dizia que por diversas vezes esgazeou a aula para caçar passarinhos na roça de aipim.

Aos dezoito anos em plena 2ª Guerra é convocado a ir lutar na Itália, mas graças a Deus, permaneceu apenas sob sentinela no Estado da Guanabara (RJ).

Seu primeiro e único emprego, onde trabalhou por 33 anos, seis meses e dezoito dias, fora na Eletro Aço ALTONA em Blumenau SC, exercendo como derradeira função a arte de tornear peças para indústrias.

De vida dura, perdeu seus pais ainda muito cedo, e casou-se aos 25 anos, era 1950, anos dourados. Foi o criador de quatro proles, cujo caçula descreve esta narrativa.

Em 1968 consegue comprar seu primeiro carro, um Opel Olimpya 1951, de duas cores, no formato saia e blusa, amarelo queimado, com teto branco.


Duas coisas que já mais saíram de minha memória: o Carro e o Rádio, que ele ouvia a Globo, às 5 horas da manha. Um Semp valvulado.

Deus tem sido tão generoso comigo, me presenteou com a chance de reaver o carro que era do Seu "Teco" apelido carinhoso e mais fácil que ELEUTÉRIO WENCESLAU FORTE.

É, consegui encontrar o carro que foi do meu pai lá no ano de 1968, o mesmo carro onde eu andava em pé no porta malas. O carro continua a ser pequeno, mas eu também o era. Tinha só três anos, e cabia bem e de pé ali.

O Rádio não é o próprio, mas o modelo, este me recordo.

As vezes penso, como seria viver com 25 anos, em plenos anos dourados. Fico a imaginar os carros da época, o corte elegante das roupas, e a arquitetura sem preguiça, dos prédios, com suas fachadas rebuscadas de arabescos, semalhas e majestosas aberturas. o cromo dos carros e o brilho do latão polido das fechaduras e trancas dos edifícios.

Seu Teco, homem simples de bigode farto e bem aparado, e a barba sempre raspada.

Quantas vezes choro de saudades suas. Já partiste faz quase vinte anos, e pra mim, parece que foi ontem. Lembro com exatidão do seu jeito de abraçar, tímido e verdadeiro, mesmo ausente no dia a dia, me ensinou os valores de ser honesto e amigo.

Da sua mão lembro da cicatriz que ficou no dedo minguinho, após prendido na prensa.

Lembro também da panela de alumínio fundido, que cozinhavas no Fogão Dako, esmaltado Azul celeste, o feijão, com chuchu cortado pela metade, que disputava espaço com as folhas de couve. A mesma panela que guardo como se fosse sua fotografia, só não consigo, é emparelhar o sabor da sua receita.

Onde estiveres sei que me vês, por isso do olho repleto de lágrimas, abro um sorriso de visita, igual aquele que ao chegar inunda de alegria quem recebe.

Seu Teco, eu tenho parte de suas coisas guardadas comigo, e no coração a saudade do meu velho amigo.

Um comentário: